A fome nossa de cada dia
A inflação e o desemprego alarmantes levaram brasileiros à fome; na esteira do oportunismo, os donos de supermercados e mercadinhos aumentaram até os preços de pés e pescoço de galinha.
Publicado: 29 Dezembro, 2021 - 13h18
Escrito por: Imprensa CUT-PE
Justino Passos/ECOS
*Por Assessoria de Imprensa da CUT-PE com informações adicionais da CUT Brasil e Brasil de Fato.
*Fotos de Justino Passos.
O Brasil enfrenta talvez sua maior crise de fome e miséria dos últimos tempos. Hoje, temos quase 20 milhões de pessoas passando fome 24 horas ou mais em alguns dias e 24,5 milhões que não sabem como vão comer no dia a dia, de acordo com levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). A inflação e o desemprego alarmantes levaram brasileiros à fome; na esteira do oportunismo, os donos de supermercados e mercadinhos aumentaram até os preços de pés e pescoço de galinha. Muita gente foi morar nas ruas.
"Depois que deixei a presidência, eu não esperava que o Brasil, dez anos depois, fosse estar pior do que eu peguei em 2003. É com muita tristeza que eu vejo que tudo o que conquistamos está sendo destruído", disse o ex-presidente Lula ao destacar que 'voltamos para o Mapa da Fome' e 'deixamos de ser a 6ª economia do mundo como em 2008'.
*A realidade fala por si*
Para se ter uma ideia desta grave crise, a inflação continua alta, as taxas de desemprego também, crescem os serviços chamados de “bicos” e o recorde de calotes no bojo da economia. O desgoverno do presidente Jair Bolsonaro não tomou medidas efetivas através da geração de emprego e proteção aos mais pobres e carentes. O Auxílio Brasil, criado no momento em que o Bolsonaro amarga suas piores taxas de popularidade, além de não cumprir o papel do programa criado em 2002, no governo Lula, de acabar com a fome e a miséria, é definido por especialistas como uma ação eleitoreira de Bolsonaro para tentar garantir sua reeleição no ano que vem. E tem data para acabar: dezembro de 2022. A fome começou a ser mais notada a partir da alta dos preços dos alimentos básicos como feijão e arroz em setembro passado. E para complicar ainda mais essa situação, teve a alta acumulada no preço da carne bovina (36%), do frango (40,4%) e dos ovos (20%), entre agosto de 2020 e 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As famílias mais pobres, que trocaram a carne de segunda ou de terceira por frango, depois por ovos, passaram a comprar pés e pescoço de galinha. Coisa passageira, uma vez que esses produtos também subiram os preços. A necessidade apertou e muita gente foi atrás de restos, como ossos de carne bovina e carcaça de peixe, que eram doados. Todavia, com o crescimento da demanda, donos de açougues e supermercados começaram a cobrar até o que antes davam para os cachorros. Gananciosos e oportunistas. Cenas tristes e chocantes encherem os noticiários da mídia.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese), o desemprego no 1º trimestre de 2021 ficou em 14,7%. E a cesta básica que em janeiro de 2020 custava R$ 507, em julho de 2021 subiu para R$ 621. Os altos níveis de desemprego e a ausência de políticas públicas dificultaram o acesso à renda, conduzindo para o pior cenário da pobreza no Brasil, nos últimos dez anos.
Com o mercado de trabalho em crise constante, vagas de emprego em situações precárias, trabalhadores (as), com a renda muito baixa e sem políticas de valorização do salário mínimo, o carrinho do supermercado está cada vez mais vazio. Sem dinheiro para comer, milhares de trabalhadores (as) não conseguiram pagar aluguel e foram morar em favelas, córregos e alagados. Outros seguiram o caminho para o centro da cidade.
Nas ruas do Recife, vimos “in loco” inúmeras expressões de angústia, dor e desespero - homens, mulheres e crianças - sobrevivem nas calçadas de prédios públicos, embaixo de árvores, pontes e viadutos, além de entradas de igrejas e teatros.
Vimos rostos esfomeados que enfrentam dias e noites em camas improvisadas de plásticos e papelão; “cascavilham” sobras de comidas pelos sacos de lixos de bares e restaurantes. É a triste realidade. Marias, Severinas, Joãos e Josés vivem diariamente transtornados, abandonados e entregues à própria sorte pelos poderes públicos. A grande maioria perdeu a vontade de viver e a esperança, outros sonham com outro mundo. O otimismo à flor da pele. Para eles, um mundo melhor é possível, com igualdade, fraternidade e justiça social.
Entretanto, se a fome existe e persiste, é importante destacar que os movimentos sociais e sindicais, inclusive a CUT-PE, se uniram para formar a campanha “Mãos Solidárias”, que ao longo de 2020 distribuiu máscaras, cestas básicas, marmitas com refeições, ajudou a criar hortas comunitárias para a produção de alimentos e formou agentes populares de saúde para educar e cuidar da população nas comunidades a se prevenirem contra o coronavírus (Covid-19).
A campanha continuou em ritmo acelerado em 2021, somando-se a outros parceiros, criando novas ações e se expandindo pelo estado de Pernambuco; recebeu doações de agricultores – ligados ao MST e outros movimentos – nada menos que 950 toneladas de alimentos, que nesses quase dois anos foram transformadas em 750 mil marmitas distribuídas gratuitamente e diariamente para a população no centro da cidade e em outros bairros.
Enquanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a aplicação do imunizante da Pfizer destinado a crianças entre 5 e 11 anos, mas, por pressão do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde decidiu abrir uma consulta pública, com o intuito de polemizar e postergar a aplicação da vacina, tem gente morrendo de fome no Brasil.