As vítimas do crime ambiental da Samarco, que devastou o Rio Doce e suas margens, realizam manifestações ao longo do curso do rio de 650 km a partir deste domingo (4). Na segunda-feira (5), o crime completa três anos, sem resposta real da Justiça e sem punição das empresas. Nenhuma casa foi construída, milhares não são reconhecidos, e a população denuncia que a Fundação Renova, constituída para restituir a sociedade e o meio ambiente, “empurra” os problemas sem previsão de reparação real na vida dessas famílias.
Para denunciar os três anos sem respostas e fortalecer a luta nas regiões, os atingidos e atingidas pelo crime da Samarco-Vale-BHP, organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), realizam a Marcha “Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça”, até 14 de novembro.
A Marcha tem início nos dias 4 e 5 de novembro, com um encontro de mulheres que debate as consequências do crime na vida das mulheres e crianças na Bacia do Rio Doce, em Mariana, em Minas Gerais, de onde os atingidos seguem para iniciar o mesmo trajeto feito pela lama, até Vitória no Espírito Santo.
“As mulheres não são reconhecidas pela Renova; somos 70% que não são atendidas por nenhum dos programas em toda a Bacia. Nós é que temos que lidar com os problemas de saúde, a falta do território que tínhamos antes, a perda de laços comunitários e familiares que o crime trouxe, devemos ser reconhecidas e respeitadas”, reafirma a atingida Márcia, de Colatina.
Com a mensagem “Do Rio ao Mar: Não vão nos calar!”, a marcha realiza ações em outros dez municípios do trecho até o mar, com feiras de saúde, atos culturais, caminhadas, celebrações religiosas e assembleias. “Estamos fazendo uma marcha ampla, que vai unir nós atingidos de toda a Bacia do Rio Doce para lutarmos juntos, porque só assim somos ouvidas pela sociedade e atendidas pelas empresas criminosas”, afirma Letícia, do MAB.
Histórico do descaso
No dia 5 de novembro de 2015, a Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, se rompeu e derramou 48,3 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos na natureza. A lama percorreu cerca de 650 km entre Mariana, em Minas Gerais, até a foz do Rio Doce no município de Linhares, Espírito Santo, espalhando-se por várias comunidades ao norte e ao sul da foz.
Atingiu, pela sequência, o córrego Santarém, o Rio Gualaxo do Norte, o Rio Carmo e todo o Rio Doce em um trajeto que compreende 43 municípios. Destruiu diversas casas, bens, modos de vida, fontes de renda, sonhos e projetos de vida. O rompimento matou 19 pessoas e provocou um aborto forçado pela lama no distrito de Bento Rodrigues (MG). Destes, ainda há um corpo desaparecido de um trabalhador direto da Samarco.