Escrito por: Redação RBA
Privatização das refinarias da Petrobras deve aumentar a vulnerabilidade frente às flutuações internacionais do preço do petróleo, afetando a população
São Paulo – Com a elevação pela Petrobras da gasolina em 3,5% e do diesel, em 4,2% nas refinarias, definida na última quinta-feira (19), a expectativa é que o reajuste chegue aos postos já nesta sexta-feira (20). A justificativa é o aumento do preço internacional do petróleo, após os ataques na Arábia Saudita no último final de semana, que comprometeram a metade da produção daquele país – a maior do planeta, responsável por cerca de 10% da oferta mundial. Para o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) José Antonio de Moraes, a atual política de preços da estatal prejudica a maioria da população para beneficiar os acionistas do mercado financeiro e as petroleiras internacionais.
“O Brasil produz petróleo suficiente para abastecer a sua população. Tem refinarias capacitadas para abastecer o mercado. Os trabalhadores petroleiros também não recebem em dólar. Na verdade, atrelar ao dólar e ao mercado internacional o aumento do preço dos combustíveis facilita a vida das multinacionais do petróleo, prejudicando a Petrobras”, afirmou o dirigente, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual.
Moraes afirma ainda que, com o reajuste dos preços, a expectativa é que os caminhoneiros voltem a protestar. “Seria importante que os caminhoneiros se mobilizassem. O governo Bolsonaro ainda detém o controle da Petrobras. Essa decisão de aumentar os preços dos combustíveis é porque a pressão de fora é maior. Temos que nos mobilizar para exigir uma política de preços dos combustíveis que seja razoável com a nossa condição de país produtor de petróleo e que tem refinarias em condições de abastecer o país”, diz Moraes.
Por sua vez, a Agência Nacional do Petróleo alega que a elevação dos preços internacionais seria positiva para o país, “exportador líquido” da matéria-prima. Contudo, segundo Moraes, seria mais benéfico ao desenvolvimento da economia brasileira se a estatal ampliasse a sua capacidade de refino, para garantir o abastecimento energético à população.
Em vez disso, o governo pretende privatizar oito refinarias (quatro em estágio avançado dos processos), aumentando a vulnerabilidade frente às flutuações do mercado internacional. As elevações de preços devem atingir o consumidor cada vez mais rapidamente, por conta da privatização da BR Distribuidora, ocorrida em julho.
O diretor da FUP ainda chama a atenção para o desmantelamento da política de conteúdo nacional, que previa percentual mínimo de componentes utilizados na exploração do pré-sal produzidos internamente. Em vez disso, o governo Bolsonaro tem preferido fazer a empresa adquirir plataformas e sondas no mercado internacional. “O petróleo do pré-sal, que poderia funcionar como uma alavanca do desenvolvimento nacional, passa a ser uma mera commodity internacional a ser exportada, (com o país posteriormente) importando óleo diesel e gasolina”, lamentou.