Escrito por: Assessoria de Comunicação da CUT-PE

Saúde mental: Brasil lidera lista de países com mais casos de ansiedade e depressão

Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, apontou que, em uma lista de onze países, o Brasil é o que tem mais casos de trabalhadores com problemas de saúde mental

Nos últimos meses, as medidas restritivas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, como isolamento social, trabalho home-office e o doloroso luto de milhões de brasileiros que perderam entes queridos para a Covid-19, aumentaram o estresse, a ansiedade e a depressão em trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, expôs a falta de políticas específicas para proteger a saúde mental de várias categorias profissionais.

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, confirmou a afirmação que já vinha sendo feita por médicos psiquiatras, psicológos e terapeutas sobre o aumento de casos de doenças mentais.

De acordo com a pesquisa, em uma lista de onze países, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%), seguido, respectivamente, da Irlanda e dos Estados Unidos.  

Um outro estudo desenvolvido em conjunto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fez a mesma constatação. De acordo com os pesquisadores, 40,4% dos brasileiros participantes do estudo se sentiam frequentemente tristes ou deprimidos, e 50,6% relataram estar constantemente ansiosos ou nervosos durante a pandemia.

Entenda o que é transtorno mental

Transtornos mentais são síndromes caracterizadas por perturbações consideradas clinicamente significativas na percepção, no emocional e no comportamental de um indivíduo que podem ter impactos drásticos na vida das pessoas que os possuem.

Os estudos apontam que estão associados ao sofrimento transtornos ansiosos, depressão, síndrome do pânico, dependências químicas, transtorno bipolar e outros, apesar de muito comuns, são também frequentemente tratados como tabu

 

Depressão 

A depressão é considerada um transtorno comum, mas precisa ser levado a sério, uma vez que interfere na vida diária do ser humano - trabalhar, dormir, estudar, comer e se divertir.  A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofram com a doença, mais comum em mulheres

A trabalhadora, Eliene da Conceição dos Santos, servidora pública, relata que convive há cinco anos com depressão e afirma que muitas vezes foi tratada de maneira negativa por outras pessoas; ficou com medo, triste, sem vontade de realizar algum tipo de atividade, isolada. Ela acentuou que a psicoterapia lhe ajudou e muito a estabelecer objetivos, superar problemas.

Eu tinha dificuldade para viver, ficava irritada, sem vontade de trabalhar, apresentava dores no corpo, insônia e, principalmente, falta de apetite e de concentração. - Eliene da Conceição dos Santos  

Ansiedade

A ansiedade é um sentimento ligado à preocupação, nervosismo e medo. Trata-se de uma reação natural do corpo. mas pode virar um distúrbio quando passa a atrapalhar, incomodar, mudar o humor. Os transtornos de ansiedade são mais comuns do que se imagina. A OMS afirma cerca de 264 milhões de pessoas sofrem de algum transtorno de ansiedade ao redor do mundo

Há dois anos, a jornalista Ana Flávia Barros, faz terapia. Nesse mesmo período foi ao psiquiatra e diagnosticada com transtorno de ansiedade. O essencial foi começar a terapia, diz. “Hoje, ainda não faço o uso de medicamentos", diz a trabalhadora.

A terapia foi e continua sendo muito importante para que eu consiga identificar os gatilhos, as minhas inseguranças, incertezas, de onde vem os sentimentos, a ansiedade como um todo. - Ana Flávia Barros

Segundo a jornalista, a dificuldade da crise de ansiedade é realmente você conseguir encontrar uma saída. A ansiedade faz com que você se feche e pense que aquilo realmente seja real, e muitas vezes não é; você não consegue enxergar até mesmo o obvio.

“A terapia transforma vidas. É fundamental para que quem vive ansioso consiga ter uma boa qualidade de vida. Com acompanhamento e tratamento corretos acredito que eu vou ter uma vida mais estabilizada” pontuou.

Por sua vez, a artesã, Cristina Novais, comentou que tem medo de perder o controle ou morrer, sofre crises, com palpitações, tremores, sensação de desmaio, náuseas, tontura. Procurou tratamento médico e vem superando as crises de depressão que duravam em média 15 a 30 minutos, seguidas de preocupação constante de ataques adicionais, de suas possíveis consequências, como perder o controle, enlouquecer, ter um ataque cardíaco.  

O que diz os especialistas

Segundo a psiquiatra Carla Maciel, depressão é um tipo de adoecimento ligado ao humor, que pode oscilar principalmente entre tristeza, irritabilidade e impaciência.

A doença pode ocasionar também diminuição de interesse, concentração e energia para atividades, alterações do comportamento, do apetite, do sono e da sexualidade, sentimentos de inutilidade, baixa autoestima e pensamentos de morte e falta de sentido na vida.

Já os transtornos de ansiedade, têm diferença. Pode ser uma ansiedade generalizada ou relacionada a contextos específicos de exposição a fatores que disparam os sintomas. Os mais comuns são medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais.

O medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida e a ansiedade é uma antecipação de ameaça futura. - Carla Maciel

Sobre o cenário de pandemia e quais os impactos disso na vida das pessoas, a médica ressalta que, de modo geral, eventos que causam crises sociais, como tragédias ambientais, atentados, epidemias e pandemias, geram privações extremas, o que impacta diretamente na vida das pessoas.

“Esses fatores causaram comprometimento para saúde mental das pessoas tanto agravando quadros já existentes como iniciando novos adoecimentos. Já no começo da pandemia, foi prevista uma “quarta onda” relacionada ao aumento da carga psicossocial com impacto significativo na incidência de doenças mentais”, conta.

 Ajuda profissional e auto-direção

A indicação é que as pessoas que sentem qualquer desses sintomas procurem ajuda profissional. Além disso, a médica dá algumas dicas de medidas que podem ajudar na prevenção para a ansiedade e depressão. “Algumas atitudes podem ajudar a prevenir a depressão e auxiliar na integração entre corpo e mente, como praticar regularmente exercícios físicos, ter uma rotina de sono adequada, manter uma alimentação saudável e nutritiva, dedicar-se a hobbies e atividades de lazer, ler, escrever sobre a vida e os sentimentos, aprender novas habilidades, encontrar amigos, conhecer novas pessoas etc.”

Na opinião da psicóloga, Alda Batista, a psicoterapia é o processo por excelência para ajudar a pessoa a resgatar ou construir a comunicação com ela mesma que por algum motivo foi prejudicada e fez surgir a ansiedade e depressão. 

Todo trabalho da psicoterapia se refere a uma falha na comunicação, diz. A pessoa emocionalmente desadaptada, o ‘neurótico’, tem dificuldades, em primeiro lugar, porque rompeu a comunicação consigo próprio e, em segundo, porque, como resultado dessa ruptura, a comunicação com os outros se viu prejudicada. 

 Através de técnicas científicas e eficazes o psicoterapeuta leva a pessoa a procurar a compreensão da consciência vivencial da experiência de si e do mundo e lhe transmite os elementos e as condições que promovem o exercício do seu poder de auto-direcão.

Para tanto, além do sigilo ético do que é exposto no setting terapêutico, enfatiza-se a importância fundamental da experiência subjetiva e pré-reflexiva como critério de conhecimento, sem julgamentos de valor.

 

O golpe, a pandemia e o pandemônio

O presidente da CUT-PE, Paulo Rocha, afirma que toda essa problemática foi ampliada com o golpe de 2016, que trouxe em seguida as reformas previdenciária e trabalhista., além da terceirização desenfreada e outras questões. “Foi dito que, com a terceirização e as reformas, o Brasil geraria mais e melhores empregos. O que aconteceu foi exatamente o inverso, isto é, poucos empregos e o desemprego se ampliou. Os empregos surgidos foram em condições precárias, com menor remuneração, maior jornada de trabalho e sem os direitos, Tudo isso afetou a vida laboral, social, além da saúde física e mental da classe trabalhadora. Os problemas e ad dificuldades aumentaram”, destacou.

De acordo com Paulo Rocha, em 2018, o Brasil elegeu um governo filho do golpe de 2016, filho do golpe da mídia e da lava jato; governo, com características autoritárias, negacionistas, que teve ao seu encontro ainda a pandemia. “Vivemos uma pandemia e um pandemônio que quer aprofundar a reforma trabalhista. Além de reduzir mais direitos, tanto na iniciativa privada quanto no serviço público, impondo insegurança no trabalho, ampliando as ameaças, a violência, e suas políticas apontam na liberdade para as pessoas ampliarem a violência, em muitas vezes, de forma sutil ou às claras”, enfatizou.

Rocha acrescentou que a pandemia, que já matou mais de 620 mil pessoas no Brasil, atingiu também outras milhares e deixou rastro de dúvidas e incertezas. A classe trabalhadora se mostra insegurança em relação ao deslocamento para o trabalho, ao adoecimento, na manutenção ou não do emprego. De um lado, a renda do trabalhador, com risco de ser reduzida, e no outro extremo os milionários cada vez mais milionários, esbanjando luxo em plena pandemia.

 O sindicalista ressaltou que a pressão por cumprimento de metas, o assédio moral, a conquista de lucros das empresas, sem repasse para os trabalhadores e trabalhadoras, bem como o medo da perda do emprego e a certeza da redução da remuneração, provocaram o aumento de adoecimento nos locais de trabalho.

 “A CUT e o movimento sindical já têm denunciado essa situação há anos. Por isso, é importante desvendar toda essa problemática, colhendo informações de personagens e, sobretudo, opiniões de profissionais especializados e qualificados, que têm conhecimento, compromisso e responsabilidade, com a transformação da vida dos trabalhadores e trabalhadoras”, completou.