Jornalistas deflagram campanha salarial e defedem implantação do Piso da categoria
A categoria não possui Piso desde a década de 1990 e é urgente a retomada de uma remuneração mínima e impedir o achatamento salarial.
Publicado: 09 Setembro, 2014 - 08h18
Escrito por: Sinjope com informações adicionais por Chico Carlos (CUT-PE

O Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (Sinjope), filiado à CUT-PE, lançou a Campanha Salarial de 2014, tendo como prioridade a implantação do Piso Salarial para a categoria em Pernambuco. A categoria não possui piso desde a década de 1990 e é urgente a retomada de uma remuneração mínima a partir da qual se possa negociar e contratar os profissionais, no sentido de impedir o achatamento brutal dos salários verificados nos últimos anos. Segundo a presidente do Sinjope, Claudia Elói, existem profissionais recebendo na carteira R$ 800,00, como salário base. Como se não bastasse, as empresas promovem a rotatividade, demitindo profissionais para contratar outros por salários menores. Nesta entrevista, Cláudia Elói ressalta a importância da luta em defesa do Piso Salarial e da valorização dos jornalistas no mercado de trabalho.
1. No ano passado o Sinjope fechou campanha salarial somente após a classe patronal assinar termo de compromisso para discutir a implantação do Piso Salarial para a categoria. Como o tema será abordado neste ano?
Cláudia Elói - Este é o ponto primordial de nossa campanha. Como não existe um piso nos acordos coletivos, os salários estão cada vez mais defasados. O Portal Leia Já, do Grupo Ser Educacional, que administra as faculdades Maurício de Nassau e Joaquim Nabuco, onde há cursos de jornalismo, paga R$ 800,00 a um profissional como salário base, que é o valor pago no contracheque para cinco horas de trabalho. Hoje, esse valor é um pouco maior do que um salário mínimo e chega a ser pouco mais do que a mensalidade de um curso de jornalismo. A Folha de Pernambuco, de grupo EQM, tem um salário base em torno de R$ 1 mil e o grupo JCMP, ao qual pertence o Jornal do Commercio, Rádio e TV Jornal, chega a pagar R$ 1.460 a um profissional. Essa realidade precisa mudar urgentemente. Não se pode ter um jornalismo de qualidade, quando os profissionais não são respeitados e desvalorizados.
2. Alguns argumentam que o Piso poderia restringir os salários pagos no mercado aos profissionais, se transformando no teto máximo de remuneração. Isso preocupa o Sinjope?
Cláudia Elói - Esse argumento é muito mais das empresas que tentam a todo custo desviar o foco da questão. O piso não pode ser adotado como limite. É apenas o começo da valorização do salário. Ele tem como meta inicial frear o declínio do poder de compra da categoria. O passo seguinte é lutar pelo crescimento da remuneração, impedindo que ela fique estagnada. É preciso exigir salários mais dignos para a categoria e a implantação de um plano de cargos e carreiras que reconheça o valor dos profissionais.
3. As empresas alegam que não podem adotar um piso, principalmente no interior do estado. Como resolver essa questão?
Cláudia Elói - Isso não passa de puro discurso. Não é pelo fato das empresas de comunicação estarem no interior que não possam pagar salários mais dignos aos profissionais. Caruaru, por exemplo, hoje é um grande polo industrial, comercial e de serviços. Isso credencia o mercado publicitário da região como um dos que gera mais lucro no estado. O mesmo acontece em Petrolina, no Sertão do São Francisco. O boom do agronegócio e as exportações têm movimentado milhões de reais. Infelizmente esse lucro não chega ao bolso dos jornalistas, que continuam se submetendo a salários aviltantes, pagos pelo mercado de trabalho daquelas regiões. É inadmissível um jornalista, por estar no interior de Pernambuco, receber R$ 900,00 por mês.
4. De que modo os baixos salários pagos nas redações repercutem nas assessorias de imprensa?
Cláudia Elói - É um efeito cascata. Historicamente os grandes veículos de comunicação sempre nortearam o valor pago ao profissional de jornalismo. A tradição continua, mas desta vez, ao contrário do passado, os baixos salários pagos atualmente servem de balizador negativo também para a remuneração nas assessorias de imprensa.
5. Além dos baixos salários, verifica-se nas redações uma tendência de demitir os profissionais com maior remuneração e substituir por pessoas com patamar salarial mais baixos. Como o Sinjope vê a questão?
Cláudia Elói - É uma estratégia muito perigosa. Não se pode pensar apenas em economizar e simplesmente descarte profissionais experientes, que contribuíram por longos anos para um jornalismo sério, ético e responsável. Os jovens jornalistas devem também ter seu espaço, mas não podem perder o senso crítico sobre o valor de seu trabalho. Se hoje acontece com os jornalistas veteranos, amanhã nada impede que eles sejam a próxima vítima. Essa tendência de “economizar” demitindo o que as empresas chamam de altos salários foi claramente percebida na onda de demissão ocorrida no início deste ano no Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Nesses casos ou se contrata por menos ou os que ficam são obrigados a acumular as tarefas dos que foram demitidos. Na pratica quem fica acaba tendo achatamento salarial. É bom lembrar também que nos sistemas de comunicação ( que dispõem de vários veículos) os jornalistas são chamados a “colaborar produzindo notícia para vários veículos enquanto percebem apenas um salários. Quer dizer, além dos baixos salários pagos hoje, os profissionais trabalham para produzir notícia para vários suportes, mas não ganham nada a mais com isso. As empresas chamam isso de convergência de mídia. Para nós, jornalistas, isso nada mais é do que exploração.