Mulheres aliam ações de solidariedade e combate à violência doméstica
Programa entrevistou assistente social e militante da Marcha Mundial das Mulheres Rozeane Nascimento
Publicado: 30 Junho, 2020 - 18h19
Escrito por: Vanessa Gonzaga Brasil de Fato | Recife (PE)
Como as ações de solidariedade podem contribuir para o combate à violência? Para responder essa e outras questões, Rozeane Nascimento, assistente social e militante da Marcha Mundial das Mulheres foi a entrevistada na última terça-feira (23), no programa Aqui pra Nós. Ela explicou como denunciar violência contra a mulher e como as ações da campanha Mãos Solidárias têm contribuído para chamar a atenção para o tema da violência. O programa Aqui pra Nós vai ao ar todas as terças no YouTube, sempre a partir das 19:30h. Confira os destaques da conversa:
Enfrentamento à violência
A proposta da campanha “Violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer” veio a partir da necessidade multiplicar informações para as mulheres que são atendida pela campanha, como explica Rozeane “muitas mulheres podem estar sofrendo violência sem poder sair para denunciar. A campanha vai levar informação para essas mulheres. Vamos produzir materiais educativos nas redes sociais e aproveitar as ações como a distribuição de máscaras e cestas para acolher essas mulher e ajudá-las”.
A assistente social explica que a baixa nas denúncias não necessariamente reflete uma diminuição de casos, mas apenas a dificuldade em denunciar. Ela também afirma que até agora os dados dos últimas estatísticas da violência ainda não foram divulgados pelo estado, o que dificulta diagnosticar e agir de forma coordenada a partir dessas informações.
Tanto as mulheres quando terceiros que desejem denunciar podem ligar para o 190. Mesmo durante a pandemia, as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM) ou em delegacias comum continuam abertas e devem acolher a vítimas, que podem solicitar medidas protetivas. Em Recife, o Centro de Referência Clarice Lispector acolhe e orienta mulheres em situação de violência doméstica e atua através do Whatsapp (81 3355 3008/ 3009/ 3010) e também está aberto acolhendo vítimas na Rua Bernardo Guimarães, 470. Boa Vista, mas Rozeane ressalta que o caminho mais rápido e eficiente para denúncias e pedido de medida protetiva ainda é a denúncia nas delegacias.
Já o 0800 281 887, o Liga, Mulher, funciona de domingo a domingo, das 7h às 19h e serve não apenas para denunciar violência, mas também relatar negligência no acolhimento por parte dos órgãos públicos. O Disque 180 é um serviço nacional de denúncia, onde terceiros podem denunciar casos de agressão e o caso é repassado para órgão municipais apurarem. No interior, a situação é preocupante, já que a rede de assistência é menos ampla “em algumas cidades a ouvidoria existe, mas o que eu vejo é que há poucos dados sobre a violência doméstica nas cidades do interior”.
Roze explica que a violência existe também em relacionamentos lesboafetivos “a mulher que está num relacionamento lesboafetivo também pode ser atendida por esses mesmos mecanismos de denúncia. Nós reproduzimos um padrão de se relacionar mesmo sem querer, onde é possível sim haver violência e dominação”.
Cultura de Paz
Rozeane afirma que apenas a denúncia e julgamento dos acusados não são suficientes para estabelecer uma cultura de paz na sociedade “a partir da implantação da Lei Maria da Penha diminui a violência contra mulheres brancas, mas aumenta contra as mulheres negras. Então a lei é importante, mas ainda não abrange todas as mulheres, especialmente nas zonas periféricas. Esses homens negros que são os agressores também não se beneficiam nesse sistema, porque eles são violentados pelo Estado e compõem a maioria da população carcerária no país”. Ela ressalta que é essencial que dialogar sobre violência não apenas com as vítimas, mas com os potenciais agressores “eles também são vítimas do racismo, da informalidade, do desemprego e não há ressocialização no sistema carcerário que temos”.
Solidariedade feminista
A Marcha Mundial das Mulheres vem atuando na campanha Mãos Solidárias a partir de ações como distribuição de cestas básicas; produção e distribuição de máscaras; na atuação dos Agente Populares de Saúde e também nos serviços de Assessoria Jurídica Popular, “a gente está buscando com que as comunidades onde as mulheres negras são as mais afetadas sejam atendidas pelo projeto, porque elas já são impactadas há muito tempo, desde antes da pandemia”.
“Não é só distribuir uma cesta e ir embora, mas despertar nas comunidades esse processo de fortalecimento político das mulheres e das comunidades”. A assistente social ressalta que os serviços da Rede de Atendimento à Mulher no estado já abrangem programas de geração de renda, para que as mulheres tenham independência financeira, mas que a organização é parte importante do processo “a organização feminista é essencial para fortalecer as mulheres, porque quando ela sofre violência e tem medo de ser julgada. Se ela encontra acolhimento com outras mulheres isso ajuda a reconhecer esse processo de violência e começar a considerar a denúncia” explica
Edição: Monyse Ravena