Organizações do campo denunciam caso de violência em Garanhuns
Para Uedislaine Santana, vice presidente da CUT PE e agricultora familiar este caso é mais um de violência contra os povos do campo
Publicado: 19 Julho, 2020 - 14h40 | Última modificação: 19 Julho, 2020 - 16h27
Escrito por: Assessoria de Comunicação da CUT-PE
Maria Socorro Lima, mais conhecida como Dona Socorro, mora no Sítio Flamengo, na zona Rural de Garanhuns, Agreste Meridional de Pernambuco, desde 1987. Na última semana sentiu uma das maiores tristezas de vida. Camponesa há 30 anos, dona Socorro viu a destruição de grande parte de seu plantio sendo feita por quem deveria a proteger, a Prefeitura Municipal de Garanhuns.
A trabalhadora rural conta que chegaram máquinas grandes, como tratores e retroescavadeiras, controladas por funcionários da municipalidade e destruíram não só suas terras, mas, também da vizinhança. "Chegaram aqui e fizeram diversas humilhações com a gente, dizendo que essa terra não é nossa. Disseram que não iam mexer na minha terra, mas eles meteram o trator pra cima. Tamparam o poço da vizinha, tamparam uma nascente que a gente tinha e não sabe nem onde era mais, porque eles destruíram tudo", diz.
A Rede de Agroecologia do Agreste de Pernambuco (REAGRO) reúne diversas instituições sociais que atuam no Agreste de Pernambuco e que tem foco no desenvolvimento sustentável com base na agroecologia. É esta organização que organiza a AGROFEIRA - Feira territorial da agroecologia e da agricultura familiar -, um espaço criado para fortalecer a produção agroecológica e a oferta à população de alimentos saudáveis, comercializados pelas famílias de agricultores familiares da região, local que Dona Socorro vende sua produção de alimentos. A REAGRO manifestou repúdio ao ocorrido, através de carta, que também foi assinada por diversos movimentos populares.
O documento diz: "Diante desse arbítrio, violência, desrespeito e perseguição por parte da Prefeitura, a REAGRO reitera seu inconformismo com este fato absurdo e inaceitável e exige que autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do município de Garanhuns se mobilizem a fim de colocar um freio nessa injustiça e obriguem a Prefeitura a corrigir os danos morais provocados (não só de agora) à Dona Socorro e os danos físicos sobre sua propriedade. Enfim, por questão de justiça, a Dona Socorro deve ser respeitada e seu ambiente devida preservado. Isto é o mínimo que se espera de uma gestão pública responsável e comprometida com sua população".
O sítio do Flamento fornece à população diversos tipos de frutas e verduras sem nenhuma adição de agrotóxico, todos são produzidos de forma agroecológica. "Todos os dias eu planto árvore, a gente se preocupa com o meio ambiente, sem preocupa com a saúde das pessoas e as autoridades não, pelo contrário, destroem tudo", ressalta a camponesa.
Para Uedislaine Santana, vice presidente da CUT PE e agricultora familiar este caso é mais um de violência contra os povos do campo. "Esta é uma ameaça e violência contra os trabalhadores e as trabalhadoras do campo, por parte do poder que se acha maior e melhor do que todo mundo e se sente no direito de invadir nossas terras e nos violentar de tantas formas. O poder público tem papel importante para legitimar a posse de terra para dona Socorro de usocapião, que já está na justiça há um bom tempo, mesmo morando no sítio há mais de 30 anos", reitera.