Escrito por: Vinícius Sobreira Brasil de Fato | Recife (PE)
Agricultor e sindicalista, Veras conseguiu expressiva votação no campo e na cidade / Comunicação/PT
Neste domingo o estado de Pernambuco elegeu seu primeiro agricultor deputado federal. Natural de Tabira, no Sertão do estado, Carlos Veras é agricultor e se destacou como liderança sindical, unindo as lutas rurais e urbanas. É presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e esteve a frente das mobilizações contra o golpe de 2016 e em defesa dos direitos dos trabalhadores durante o governo Temer.
Filho de família de agricultores na comunidade de Poço Dantas, município de Tabira, Veras conta ter carregado muita lata d'água na cabeça. Com apenas 18 anos começou a atuar na Associação Rural de Poço Dantas, fazendo luta junto à prefeitura em defesa dos camponeses da região. Com atuação destaca, passou a atuar na central sindical CUT, que engloba os sindicatos de trabalhadores rurais (STRs) de Pernambuco. Em 2009 foi eleito vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores e desde 2012 é presidente da organização.
Na presidência da CUT, mudou-se para a Região Metropolitana do Recife. Em sua atuação construiu as pontes entre as lutas de trabalhadores rurais e urbanos, aprendendo sobre a realidade de diversas categorias. A boa relação com trabalhadores do campo e da cidade se refletiu nas urnas. Carlos Veras conseguiu ter votos em todas as 185 cidades de Pernambuco - inclusive Fernando de Noronha, onde teve 6 votos. Apesar de ser agricultor, Veras obteve quase 17 mil votos na Região Metropolitana do Recife. Em sua cidade natal, Tabira, obteve quase 4 mil votos.
Ele atribui o sucesso de sua campanha de estreia à militância e à confiança dos trabalhadores. "Muitos trabalhadores rurais e urbanos acreditaram, construíram essa candidatura e possibilitaram essa eleição. Eles entenderam que a luta é de classe", disse. "A militância das organizações, dos movimentos sindicais e populares teve papel fundamental em conscientizar a população para não trocarem seus votos por benefícios momentâneos, mas acreditar num projeto coletivo", avaliou Veras.
A eleição de um trabalhador rural comum para o Congresso Nacional, num estado cuja história é marcada pela força das oligarquias e pelo jugo do latifúndio, é vista por ele como fruto da crença da classe. "Sou o primeiro agricultor familiar eleito deputado federal por Pernambuco. Isso é muito importante. Quebramos paradigmas", comemorou. "Mostramos que um trabalhador comum pode, sim, ser vereador, deputado, prefeito ou presidente da República, como foi Lula. Basta que os trabalhadores acreditem e votem noutro trabalhador". Ele pondera, no entanto, que eleger Haddad presidente nesse 2º turno para conter o projeto que ameaça os trabalhadores.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a declaração de bens do sindicalista mostra uma conta corrente na Caixa Econômica Federal com apenas R$570, além de um apartamento no Bairro Novo, em Olinda, financiado pelo programa Minha Casa Minha Vida, com compra ainda em aberto, visto que Veras pagou apenas R$70.500 do valor do imóvel.
Agricultor também na Alepe
Pernambuco elegeu o também agricultor Doriel Barros (PT) para deputado estadual. Natural de Águas Belas, no Agreste do estado, Barros tem destacada atuação sindical no meio rural e presidiu por dois mandatos a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape), que reúne 179 sindicatos rurais dos 185 municípios do estado. Os 67 mil votos também deram números expressivos ao agricultor.
Barros recupera na Assembleia Legislativa (Alepe) um lugar que já havia sido conquistado pelos trabalhadores rurais em 2014, quando elegeram Manoel Santos (PT) para o cargo. O "Mané", natural de Serra Talhada, fora um histórico líder rural, chegando a presidir a Confederação dos Trabalhadores da Agricultura do Brasil (Contag). Mas no seu primeiro ano de mandato como deputado, Santos faleceu, vítima de câncer.