Escrito por: r: Redação RBA
Manifestação da frente Povo Sem Medo em São Paulo rechaça declarações abusivas de Bolsonaro. "Nos últimos dias, esse governo se colocou como cúmplice de homicídio", disse o líder do MTST Guilherme Boulos
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a expressão de que a ditadura está presente no país hoje, afirmou no início da noite desta segunda-feira (5) o presidente da CUT, Vagner Freitas, durante ato na Avenida Paulista “Ele está preso porque era candidato à Presidência da República e ia ganhar a eleição. Lula precisa ser solto. A bandeira Lula Livre purifica todos aqueles que lutam pela democracia”, acrescentou, diante da vão livre do Masp, no ato Ditadura Nunca Mais, convocado pela Frente Povo sem Medo para rebater a escalada autoritária que atinge o país com o governo Bolsonaro. “É preciso reagir, antes que seja tarde”, alertou a organização do evento.
“O que o Bolsonaro fez, nestes últimos dias, passou de qualquer limite com a declaração sobre o Fernando Santa Cruz, desaparecido político da ditadura militar (1964-1985), assassinado por essa ditadura. Ao que consta, ocultaram seu corpo até hoje, sem que a família tivesse podido enterrar”, disse o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. O ex-candidato à Presidência pelo Psol fez referência a declaração do presidente que desdenhou e duvidou da morte do ativista, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pelas mãos de militares. Ele foi preso e desapareceu em 1974.
“Felipe Santa Cruz é filho do Fernando. Bolsonaro disse, para atacá-lo, que sabia onde está o corpo do pai dele, o que teria acontecido com o pai dele. Ou seja, o presidente da República se colocou como cúmplice de um homicídio. De um assassinato cometido pela ditadura, pelo Estado. Isso é crime”, disse Boulos, citando ainda outra declaração do presidente, sobre chacina em um presídio em Altamira, no Pará, na semana passada. “Fez troça, tratou como ridículo a morte de 57 pessoas que estavam em um presídio onde houve uma guerra, um massacre. Tratou com ironia quando foi perguntado sobre isso.”
Característica básica de ditaduras, o ataque à liberdade de expressão, também está presente nas últimas ações do governo Bolsonaro. “Sergio Moro (ministro da Justiça) editou uma portaria de deportação sumária, inconstitucional, em um caso que ele é investigado, não poderia comandar a investigação. Falou em destruir provas e Bolsonaro falou na prisão do Glenn Greenwald”, disse o líder do MTST, a respeito da perseguição do governo contra o jornalista do site Intercept, responsável pelo escândalo da Vaza Jato, que revelou relações promíscuas entre Moro, quando juiz federal, e procuradores da Operação Lava Jato.
“Nos últimos dias, esse governo se colocou como cúmplice de homicídio, perseguiu jornalista, atacou a liberdade de imprensa. O que falta mais? Chegou no limite. Ultrapassou uma linha vermelha. Não dá mais”, completeou Boulos. “Agora é momento de reagir e ir para as ruas. O próximo degrau é a destruição completa da democracia brasileira. Falta pouco. Bolsonaro se mostra, a cada dia, um ser pior. Supera todas as expectativas negativas.”
A ex-ministra Eleonora Menicucci repudiou as ações de Bolsonaro durante o ato. “Esse aí, que ao votar no golpe que tirou a primeira mulher eleita e reeleita, com 54 milhões de votos, para presidenta do país, dedicou seu voto (pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016) ao maior torturador desse país, o Ustra (o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontando como um dos principais torturadores da ditadura). Sei o que significa isso, sei bem o que é ser torturada. É abominável e, também, é abominável como ele chegou lá. Por fake news. Este ato é uma manifestação de repúdio a todas essas manifestações que Bolsonaro tem feito a favor da ditadura”, disse.
Pela Frente Brasil Popular, o coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, também se referiu à da criminalização de movimentos sociais. “Hoje, há 41 dias, companheiros como a Preta Ferreira, estão atrás das grades por lutar por moradia. Esta é uma situação gravíssima. Precisamos estar todos unidos neste momento. É um governo autoritário que pretende entregar nossa soberania e atacar nossa democracia”, criticou.
Hoje, o MTST decidiu realizar mais uma homenagem aos mortos e desaparecidos da ditadura. O núcleo de luta por moradia de Santo André, no ABC paulista foi batizado com o nome de Fernando Santa Cruz. “O núcleo existe oficialmente há dois meses e funciona, na prática, como uma ocupação fora do terreno. Toda semana, coordenadores do MTST reúnem-se com centenas de famílias que precisam de moradia — que vivem de favor, que comprometem mais do que podem para pagar o aluguel e não morar na rua, num contexto de crise aguda e falta de emprego”, explica a entidade.
“O Brasil ficou estarrecido, na última semana, com uma declaração em especial do presidente — em meio a tantas. Bolsonaro afirmou saber como morreu o pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados Brasileiro). Fernando Santa Cruz foi sequestrado e assassinado — não se sabe como — pela ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985, o que foi reconhecido pelo próprio estado brasileiro. Bolsonaro, depois, mentiu dizendo que companheiros de Fernando o teriam matado. Praticamente todo o conjunto da sociedade se escandalizou e condenou a fala absurda que distorce a história, ataca a dignidade humana e ofende a memória de quem ousou contestar o regime militar”, completou o MTST.